sábado, 2 de novembro de 2019


Perdeu, playboy!

O Zé mora numa subidinha em Jacarepaguá, um típico bairro família, aqui no Rio de Janeiro. O bairro já foi mais calmo, mais bucólico, agora já não é tão assim. Clima agradável, vizinhança amiga e, quando aparece algum estranho por lá todo mundo fica de olho. Numa certa manhã o Zé preparou no capricho duas sacolas plásticas, bem cheias, com muito cuidado, para que não se rasgassem ao transportar, ainda que fosse levar para perto de casa. Tudo pronto, Zé saiu de casa, trancou o portão e começou descer a ladeira vagarosamente. Era cedo, antes das seis da manhã. O sol começa a dar a sua cara, ainda preguiçoso, de mais um dia de inverso carioca. Sabe como é inverno carioca, é com a temperatura na casa dos 18°C, e já todo carioca tira o casaco com naftalinas do armário. Assim estava o Zé, paramentado para fazer sua obrigação. Fechou o portão e começou a caminhada ao seu destino. Não andava mais rápido porque a idade já não ajuda mais correria. Eis que, do nada, Zé escuta que vem alguém descendo também atrás dele e, do nada, a pessoa arranca-lhe as duas sacolas carregadas por trás dele e desce correndo a ladeira. O Zé ficou sem ação. Não esperava por isso, nem teve reação para correr atrás do meliante. Só o ouviu gritar: Perdeu, playboy! O Zé parou sua descida e ficou olhando o meliante descer na desabalada carreira. Ao chegar ao pé da ladeira, há uns trezentos metros, se tanto, de onde estava o Zé, o pilantra de plantão resolveu colocar as sacolas no chão e abri-las para avaliar o valor do ganho, que não deveria ser pouco, considerando-se o peso que carregava. Qual não foi a surpresa do pilantra, dentro de uma e da outra sacola, apenas o lixo de casa, restos de comida, cocô dos cachorros, e outras porcarias, acumulados de uma semana. Depois de uma dezena de impropérios, e com os dois dedos médios das mãos, gesticulando para o Zé, que ainda estava parado na ladeira, o ladrãozinho de meia-tigela, jogou toda aquela porcaria numa caçamba da COMLURB estacionada na esquina, e seguiu em frente chutando uma garrafa PET, enquanto isso o Zé, virando-se para o alto da ladeira, foi retornando para o seu sossegado lar, sem antes se lembrar da primeira expressão que ouviu naquela manhã: Perdeu, playboy! E, sorrindo repetiu: É, você perdeu, payboy!
11 set. 2019.

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